terça-feira, 9 de julho de 2013

Nanoadesivo para administração de vacinas pode no futuro substituir seringas

Adesivos podem substituir agulhas em vacina do futuro, dizem cientistas

Dormir 'faz bem ao coração', sugere estudo realizado na Holanda

Dormir sete ou mais horas por dia faz bem ao coração, diz estudo

Atualizado em  3 de julho, 2013 - 06:07 (Brasília) 09:07 GNT

"Um estudo holandês sugere que sete ou mais horas de sono por dia podem trazer benefícios para o coração quando combinadas a um estilo de vida saudável."

De acordo com a pesquisa, seguir uma dieta saudável, não fumar, beber com moderação e fazer exercícios regularmente podem reduzir o número de mortes causadas por doenças cardiovasculares, mas mais vidas poderiam ser salvas se, junto a isso, as pessoas tivessem uma boa noite de sono.

A equipe, da Universidade de Wageningen e do Instituto Nacional de Saúde Pública e Meio Ambiente da Holanda, acampanhou o estado de saúde de mais de 14 mil homens e mulheres durante uma década.

Ao final do estudo, publicado no European Journal of Preventive Cardiology, 600 haviam sofrido de doenças cardiovasculares ou infarto e 129 haviam morrido.

Saúde pública


O estudo concluiu que as pessoas que seguiam hábitos saudáveis tinham 57% menos chances de desenvolver doenças cardiovasculares e risco 67% menor de morrer desses males.

Mas quando uma boa noite de sono foi somada à equação – sete ou mais horas por dia –, os analisados tinham 65% menos chances de desenvolver problemas do coração e um risco 83% menor de morrer.

Segundo os pesquisadores, outras pesquisas já haviam indicado uma relação entre poucas horas de sono e doenças cardiovasculares, mas esta é a primeira a investigar se os hábitos de dormir bem e levar uma vida saudável podem reduzir o risco de morte por males do coração.
"O impacto que boas noites de sono e uma vida saudável podem ter na saúde das pessoas pode ser substancial", afirmam os cientistas.

Ao comentar o estudo, o professor Grethe Tell, da Universidade de Bergen, Noruega, afirmou que "sob o ponto de vista da saúde pública, as pessoas devem ser encorajadas a dormir bem e, assim como qualquer outro hábito de vida saudável, isso deve ser ensinado em casa", afirmou.

Insônia

Doireann Maddock, enfermeira cardiologista da organização British Heart Foundation, disse que pessoas que sofrem de insônia não deveriam ficar assustadas com os resultados do estudo.

"O estudo não afirma que quem dorme pouco pode sofrer de problemas do coração", disse Maddock, acrescentando que pessoas que têm dificuldade de dormir devem evitar cafeína e refeições pesadas antes de ir para cama.

Para acessar o link da página:

http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2013/07/130703_sono_coracao_fl.shtml


Por Edilaine R., 
09 julho 2013

Prêmio ao melhor preservativo

Bill Gates dará prêmio à camisinha "perfeita"

DO "NEW YORK TIMES" , 09 julho 2013


A maioria dos homens não gosta de usar camisinha. Esse é um obstáculo de saúde pública que levou a Fundação Bill e Melinda Gates a abrir inscrições para um grande desafio: desenvolver "a camisinha da próxima geração, que preserve ou aumente o prazer de modo significativo".

O objetivo é enfrentar a gravidez indesejada e as doenças sexualmente transmissíveis, como a Aids. A camisinha evita as duas coisas de maneira barata e eficaz. Mas, em todo o mundo, somente 5% dos homens a usam. Enquanto isso, surgem 2,5 milhões de novas infecções por HIV ao ano.

"A diminuição do prazer sexual é geralmente a justificativa dada para não usar a camisinha", disse Stephen Ward, diretor do programa da Fundação Gates. "Podemos realmente torná-las mais desejáveis?"

 Mais de 500 inscrições foram recebidas. O concurso da Gates vai dar aos vencedores US$ 100 mil neste outono e até US$ 1 milhão mais tarde. Especialistas em camisinhas -alguns dos quais estudam o assunto há anos- têm ideias sobre o que pode dar certo ou não.

"Os homens gostariam, em primeiro lugar, de não sentir que as estão usando", disse Ron Frezieres, vice-presidente de pesquisa e avaliação do Conselho de Saúde Familiar da Califórnia, que há muito tempo testa camisinhas para a indústria, o governo e organizações sem fins lucrativos. "Em segundo, tem de ser um pouco melhor do que a que eles estão acostumados."

No mundo em desenvolvimento, as camisinhas levantam outras questões. Em algumas culturas, os homens resistem tanto ao uso do preservativo que as mulheres têm de fazer uma "negociação". Além disso, as mulheres que portam camisinhas podem ser consideradas prostitutas.

 Bidia Deperthes, importante assessora técnica sobre HIV para o Fundo Populacional da ONU, e Franck DeRose, diretor-executivo do Condom Project, instituição beneficente, usam canções e danças sobre o preservativo para tentar fazê-lo parecer agradável, e dão às mulheres maneiras de levar camisinhas discretamente, como recipientes parecidos com caixas de pastilhas para o hálito.

Diante do amplo leque de diferenças pessoais e culturais, o valor do concurso da Fundação Gates poderá estar em encontrar diversos tipos de camisinhas - talvez de novos materiais- que possam ser produzidas de maneira barata para o mundo em desenvolvimento.

Vários fabricantes trabalharam em camisinhas mais atraentes. Algumas, como Pleasure Plus e Twisted Pleasure, desenhadas por um cirurgião indiano, Alla Venkata Krishna Reddy, que um especialista chamou de "o Leonardo da Vinci das camisinhas", respondem às queixas de atrito e compressão. Elas são espaçosas e inflam.

Outro projeto, o preservativo eZ-On, tratou do problema de colocar a camisinha. Feito de poliuretano, não de látex, o preservativo era frouxo, "montado dentro do que eu chamo de tutu", disse Frezieres. "Não era direcional, então você podia colocá-lo de qualquer lado."

Uma inovação malsucedida foi a camisinha Hat [chapéu], que parece uma pequena touca de chuveiro e foi desenhada, segundo Frezieres, "para encaixar só na ponta do pênis" e "oferecer o máximo de sensibilidade". Porém, "em testes clínicos os casais experimentaram dificuldade para evitar que a camisinha-chapéu saísse do lugar", disse.

Outra ideia foi a camisinha em spray, que usaria látex líquido para criar um preservativo sob medida para o usuário. "Ótimo conceito", disse Frezieres. "Mas ficamos pensando em como tirar aquilo depois."

Um desenho promissor, já disponível em algumas partes do mundo, é o preservativo Pronto 4:Secs, com uma caixa decorada com desenhos que lembram Dick Tracy. A 4:secs, um trocadilho e o tempo que se deve levar para colocá-la, é uma camisinha em um aplicador plástico que parece uma boia salva-vidas. "É realmente bacana", disse Deperthes, demonstrando como o aplicador se abre para permitir que a camisinha seja colocada com o lado certo para cima.

O concurso da Fundação Gates também recebeu desenhos de camisinhas femininas, mas essas são historicamente ainda menos populares que as masculinas. São muito mais caras e precisam ser posicionadas corretamente para não sair do lugar.

Amy e Max H., testadores de camisinhas que moram em Los Angeles e estão juntos há oito anos, são unânimes em sua antipatia pelo preservativo feminino. Como disse Max, "nós dois achamos a camisinha feminina anti-sexy. Ela realmente não parece fazer muita diferença em termos de sensação, mas visualmente ficamos decepcionados".

Talvez o produto mais inovador feito nos EUA seja a camisinha Origami, que ainda está em testes clínicos. Seu inventor, Danny Resnic, disse que foi motivado por sua própria experiência quando "uma camisinha de látex arrebentou e eu acabei diagnosticado com HIV". Anos de experimentos o levaram a criar uma camisinha parecida com uma sanfona, com pregas frouxas para permitir o movimento em seu interior. 

Para acessar o link da página:

http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2013/07/1307967-bill-gates-dara-premio-a-camisinha-perfeita.shtml

Por Edilaine R.,
09 julho 2013

domingo, 24 de março de 2013

A Dieta equilibrada traz benefícios ao coração

Estudo liga dieta vegetariana a menor risco de doença cardíaca

James Gallagher
Repórter de Ciência e Saúde, BBC News

"Deixar de lado carnes e peixes em favor de uma dieta vegetariana pode ter um efeito positivo na saúde do coração, sugere um estudo recente."

A pesquisa, que avaliou 44,5 mil pessoas na Inglaterra e na Escócia, indica que os vegetarianos têm 32% menos probabilidade de morrer ou necessitar de tratamento hospitalar em decorrência de doenças cardíacas.
Acredita-se que as diferenças em níveis de colesterol, pressão arterial e peso estejam por trás dos benefícios à saúde.
As conclusões do estudo foram publicadas no American Journal of Clinical Nutrition.
Doenças cardíacas são um grande problema em países ocidentais. Somente na Grã-Bretanha – onde o estudo foi feito – esses males matam 94 mil pessoas por ano, mais do que qualquer outra doença. Outras 2,6 milhões de pessoas têm problemas cardíacos.
O bloqueio, por gordura, das artérias que conduzem sangue ao coração pode causar angina ou até levar a um ataque cardíaco.

 Verduras e legumes (Foto: PA)
(Cientistas dizem que alimentação variada e equilibrada é determinante para saúde do coração)

 

Dieta equilibrada

Cientistas da Universidade de Oxford analisaram dados de 15,1 mil vegetarianos e 29,4 mil pessoas que consumiam carnes e peixes.
Ao longo de 11 anos, 169 participantes do estudo morreram e 1.066 precisaram de tratamento hospitalar devido a doenças cardíacas – e a probabilidade foi maior entre os consumidores de carnes e peixes do que entre os vegetarianos.
"A principal mensagem é de que a dieta é um importante fator determinante da saúde do coração", diz a médica Francesca Crowe, uma das autoras do estudo.
Ela ressalta, porém, que não está "defendendo que todos adotem uma dieta vegetariana". Uma das questões-chave é reduzir o consumo de gorduras.
"Os vegetarianos provavelmente apresentam baixo consumo de gordura saturada, então faz sentido que tenham um risco menor de doenças cardíacas", afirma.
Os resultados indicam que vegetarianos têm níveis de "mau" colesterol e pressão arterial mais baixos e também têm maior probabilidade de ter um peso saudável.

"Essa pesquisa nos faz lembrar que devemos buscar uma dieta variada e equilibrada, inclua ou não carne", diz Tracy Parker, da British Heart Foundation.

"Mas é importante ressaltar que ser vegetariano não é um atalho para um coração saudável. Afinal de contas, ainda há muitos pratos vegetarianos com altos níveis de gordura saturada e sal", afirma Parker.
E outra recomendação: "Se você está pensando em mudar para uma dieta vegetariana, planeje suas refeições com cuidado, para substituir vitaminas ou minerais (presentes na carne), como ferro", observa.

Para acessar o artigo:

Por Edilaine R.,
24 março 2013

Longevidade com saúde - limites do organismo

A longevidade é necessariamente uma coisa boa?

Peter Bowes
BBC News, Los Angeles, 01 março 2013



"Todos os anos, aumenta o número de pessoas idosas tanto nos países desenvolvidos como nas nações em desenvolvimento graças às descobertas da medicina moderna para atrasar as fronteiras da morte, mas a longevidade é necessariamente uma coisa boa?"

Na Califórnia, a forma física é levada ao extremo. Há lojas em Beverly Hills, local conhecido por sua obsessão com a imagem, apinhadas de comprimidos e fórmulas que visam prolongar a vida. Em Santa Monica, há tantos programas de treinamento ''boot camp'' e tantas sessões de ioga em parques públicos que autoridades locais já pensam em impor um limite.
''Na Califórnia, você vê pessoas se exercitando às 5h15 e isso ou faz bem a elas ou faz parte de uma psicose neurótica séria, ligada à infelicidade pelo fato de estarem ficando mais velhas'', afirma Ed Saxon, que produziu o filmeFast Food Nation, em 2006.
''Uma pessoa de 55 anos que imagina que deva se parecer com alguém de 25 se submetendo a cirurgias e se exercitando fanaticamente para que isso aconteça, tudo isso me parece uma má ideia. A obsessão em parecer mais jovem do que você realmente é."
Além da obsessão em torno da forma física, existem os conselhos incessantes em torno do que se deve comer para permanecer jovem. Eu deveria tomar mirtilo, couve batida ou comer torrada sem glúten? E vinho tinto, faz bem para mim ou não? E quanto ao chocolate?
Pode ser desconcertante, mas o objetivo é claro. A morte tem de ser adiada o máximo possível.

Foto: BBC

(Alguns afirmam que obsessão com vida longa está levando a 'incapacidade prolongada')

Incapacidade prolongada

''Nos Estados Unidos, se assume como fato que a longevidade é algo bom'', afirma Susan Jacoby, autora do livro Never Say Die (Nunca Diga Morrer, em tradução literal).
''Muito dessa crença irracional de que há coisas que você pode fazer para se assegurar contra a velhice e a doença tem a ver com o fato de que nós, nos Estados Unidos, realmente não gostamos de envelhecer'', comenta a escritora.
Jacoby, de 67 anos, faz duras críticas ao que chama de ''lixo de estilo de vida'' e ''lixo de suplementos alimentares''.
''Se você for olhar com mais atenção para essas pessoas que te dizem que você pode ser uma pessoa saudável aos 120, existe um homem ou uma mulher vendendo alguma coisa'', comenta.
A verdade, diz a autora, é que a maior parte das pessoas que vivem além dos 90 irão morrer após passar ''um período prolongado de incapacidade''.

''Nós estamos acreditando nesse mito de que, como estamos atualmente mais saudáveis do que nunca aos 67 anos, estaremos assim também aos 87 ou aos 97. Mas a verdade é que graças a alguns avanços duvidosos da medicina moderna, que mantém pessoas vivas não importa o quê, é que será preciso refletir mais sobre como cuidar dessas pessoas.'' 
(Susan Jacoby, autora do livro Never Say Die)

 
Em 1980, James Fries, professor de medicina da Universidade de Stanford, anteviu uma sociedade em que doenças crônicas seriam adiadas e reduzidas. Nessa sociedade, pessoas levariam vidas saudáveis e morreriam de forma relativamente rápida, reduzindo a quantidade de deficiência e incapacidade.
Fries chamou a isso de ''morbidez comprimida'' e seu trabalho foi creditado como o marco das origens do paradigma moderno para se envelhecer de forma saudável.
O problema é que é mais fácil aconselhar pacientes sobre como prolongar suas vidas saudáveis do que reduzir qualquer período de saúde em declínio.

"Se você for olhar com mais atenção para essas pessoas que te dizem que você pode ser uma pessoa saudável aos 120, existe um homem ou uma mulher vendendo alguma coisa.

(Susan Jacoby, autora do livro Never Say Die)

Boa morte

Joseph e Anne Gias são um casal saudável na faixa dos 60 anos, mas eles se preocupam com os percalços da velhice. ''Não quero passar dos 80. Eu creio que entre os 80 e os 85 as pessoas se deterioram muito. Já vi muita deterioração nessa faixa etária e não quero que isso aconteça comigo'', afirma Anne.
A despeito dos temores de Anne, há exemplos de pessoas que levaram vidas longas e saudáveis. Quando Besse Cooper morreu em dezembro do ano passado, aos 116 anos, ela era a mulher mais velha do mundo.
De acordo com relatos, ela estava com uma saúde incrível e nunca se queixou de dores. Ela levava uma vida ativa e se recusava a comer ''porcarias''.
No seu último dia de vida, ela comeu um generoso café da manhã, fez o cabelo e viu um vídeo de Natal com amigos.
Besse morreu em paz à tarde, após ter sofrido problemas respiratórios. Ela é um raro, mas bom exemplo da morbidez comprimida, a que se referia James Fries - uma vida longa e saudável e uma boa morte.

Link para a página do artigo :


Por Edilaine R.,
24 março 2013

sexta-feira, 22 de março de 2013

Geração Ritalina ? Ou Geração Desorientada e desfocada ? Ou ainda: geração sem sossego de um tempo intranquilo ?

Geração Ritalina

Falta de atenção virou doença. O nome? TDAH. A suposta solução? Um remédio tarja preta.
 
 Falta de atenção e foco virou doença. O nome? Transtorno de déficit de atenção com hiperatividade. A suposta solução? O remédio tarja preta, do qual o Brasil é o segundo maior consumidor do mundo. Psiquiatras culpam o cérebro; outros, a sociedade. Nosso repórter ouviu os dois lados e passou uma semana sob o efeito da “droga da obediência”
 
“Bom, é o seguinte: você tem sinais de déficit de atenção e de ansiedade. Vou te prescrever um medicamento”, sentenciou o psiquiatra. O gravador escondido no bolso marcava exatos 23 min de consulta – tempo suficiente para ele me diagnosticar com TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade) e escorregar pela mesa uma receita para três caixas de Ritalina. Não precisei mentir nem exagerar nada. Em resumo, relatei que vez ou outra tenho dificuldade para me concentrar em coisas que não me interessam, que prazos podem ser um problema e que faz tempo que não leio um livro até o fim. O que foi? Se identificou com alguma coisa?

Não se preocupe. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) e a Associação Americana de Psiquiatria, cerca de 4% dos adultos e de 5% a 8 % de crianças e adolescentes de todo o mundo sofrem de TDAH, “uma síndrome caracterizada por desatenção, hiperatividade e impulsividade”, atigamente chamada apenas de DDA (déficit de atenção). Em uma sala de aula com 40 crianças, por exemplo, estima-se que pelo menos dois sejam portadores. E cada vez mais o destino delas é o mesmo que o meu: o consultório de um psiquiatra.

Grande parte da psiquiatria vê o TDAH como uma doença neurobiológica, causada por um desequilíbrio químico no cérebro, tal qual a depressão. O diagnóstico é feito a partir de entrevistas, isto é, não há exames que detectem a doença. Seus “defensores”, por assim dizer, afirmam existir mais de 10 mil estudos relatando seus sintomas, os primeiros datando dos anos 1700.

Todavia, isso são hipóteses, teorias. Muitos profissionais, especialmente de outros ramos da medicina, questionam a causa, o diagnóstico, o tratamento com remédios e a utilização do transtorno como justificativa para desempenhos fracos na escola. Alguns, mais radicais, duvidam até da própria existência do TDAH.

Mesmo assim, resolvi seguir as recomendações do meu médico. Durante uma semana, vivi sob o efeito do remédio tarja preta (leia o diário no fim do texto), apelidado por seus críticos de “droga da obediência”. Nem a Novartis, laboratório fabricante, nem a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (anvisa) revelam os números de vendas. Mas previsões do Instituto Brasileiro de Defesa dos Usuários de Medicamentos (Idum) dizem que, em tese, nos últimos 11 anos, elas galoparam cerca de 3.200%. O número coloca o Brasil como o segundo maior consumidor de Ritalina do mundo, perdendo apenas para os Estados Unidos.

A pesquisa não contempla o mercado negro, que, ao que parece, é bem movimentado. Bastou meia hora no Google para encontrar diversos anúncios de gente oferecendo o remédio “off label” (sem receita). Por telefone, acordei de encontrar um vendedor em uma estação de metrô na manhã do dia seguinte. Chegando lá, um motoboy me entregou em mãos um envelope pardo e pediu que eu conferisse o conteúdo: Ritalina 10 mg, 20 comprimidos, lacrada e dentro da validade. Valor: R$ 80. Nas farmácias, sai em média por um quarto do preço. Relativamente barata, fácil de conseguir e teoricamente segura, a “Rita” vem sendo usada também por estudantes e baladeiros que querem bombar a energia e espantar o sono. A moda teria surgido em clubs e colleges norte-americanos.

O efeito de cada drágea de cloridrato de metilfenidato, nome verdadeiro da Ritalina, dura em média quatro horas. Assim como outras “inas” – a cocaína, a cafeína e as anfetaminas –, ela é considerada um psicoestimulante. Seu mecanismo de ação ainda não foi completamente elucidado. Mas acredita-se que ela aumenta a produção e o reaproveitamento da dopamina e da noradrenalina, neurotransmissores associados às sensações de prazer, excitação e ao estado de alerta do sistema nervoso. A bula alerta para a dependência física ou psíquica, além de elencar uma série de reações adversas como nervosismo, dificuldade em adormecer, diminuição no apetite, dor de cabeça, palpitações, boca seca e alterações cutâneas.

No FDA, órgão governamental dos Estados Unidos responsável por controlar alimentos e medicamentos, há 186 registros de óbito citando o uso prolongado do metilfenidato. Um dos nomes é o do jovem Matthew Smith – falecido aos 14 anos, metade deles fazendo uso da substância. Seus pais fundaram o Ritalindeath.com com a missão de “prover informações sobre a verdade oculta do TDAH e das drogas usadas em seu tratamento”.

Laboratórios é que bancamO site da Associação Brasileira do Déficit de Atenção (ABDA) é o primeiro que aparece quando se faz uma busca virtual sobre TDAH. Nele há o cadastro de médicos do país todo especialistas no assunto, onde encontrei o contato do psiquiatra que me atendeu. A associação, fundada pelo doutor Paulo Mattos e um paciente em 1999, também realiza eventos para divulgar a causa e oferece cursos de treinamento para professores.

A entidade é patrocinada pelos laboratórios que fabricam, segundo o site, “os remédios de primeira linha para o tratamento de TDAH”. São eles: Novartis, produtora da Ritalina e da Ritalina LA (mesma substância, mas com dosagens mais altas); Janssen Cilag, do sugestivo Concerta; e Shire, do recém-lançado Vevanse. “Ninguém recebe salário, exceto a secretária. Por isso precisamos de incentivos privados. Não há conflito de interesse, desde que, claro, você apresente a situação para as outras pessoas”, explica o doutor Paulo Mattos.

No ano passado, a Novartis e a ABDA promoveram em parceria o concurso “Atenção Professor”, com o objetivo de “ajudar os educadores a conhecer e lidar melhor com o TDAH”. Ganhavam as três escolas que apresentassem as melhores propostas de inclusão de portadores na sala de aula. Como prêmio, R$ 7 mil em dinheiro e uma garrafa de champanhe. Recentemente, um projeto de lei institucionalizando o diagnóstico e o tratamento de TDAH nas escolas foi aprovado no Senado, restando apenas três comissões para que a aprovação se repita na câmara dos deputados.

“Ciência não se discute”A psicóloga Iane Kestelman, atual presidente da ABDA, descobriu a organização quando seu filho, “sumariamente reprovado em todas as matérias na escola”, foi diagnosticado com o transtorno. “Nossa vida mudou, e para melhor. Meu filho iniciou o tratamento e passou na melhor faculdade de economia do país. Ele toma remédio há 12 anos e não virou nenhum robô, como dizem por aí”, ela conta, a voz embargada do outro lado do telefone. Orgulhosa do caso de sucesso na família, ela relativiza a epidemia do TDAH e o boom nas vendas da Ritalina: “É um bom sinal. Significa que estamos cumprindo nosso papel, que mais gente está conhecendo a doença e o tratamento adequado”.

De acordo com uma pesquisa recente realizada por USP, Unicamp e Albert Einstein College of Medicine quase 75% dos jovens brasileiros que utilizam Ritalina ou similares não foram diagnosticados corretamente. Iane e doutor Paulo Mattos, porém, furtam-se a discutir uma possível fragilidade e/ou subjetividade no diagnóstico da doença. “Achamos isso ofensivo, inclusive. Ciência não se discute. Ela não está preocupada se você concorda com ela ou não”, diz a psicóloga. “Isso é um pseudodebate. Quem duvida da existência do TDAH nunca publicou nenhum artigo sobre o assunto, não tem qualificação. Você não vai chamar um pajé para discutir com um neurocientista”, engrossa o coro seu colega.

“TDAH não existe”Marilene Proença não é um pajé. É psicóloga, integrante do Instituto de Psicologia da USP, e opõe-se à razão de ser da ABDA. “TDAH não existe. O que existe são crianças diferentes, com formas de aprender diferentes. Algumas são mais focadas, outras mais dispersas. Não existe um padrão de aprendizado”, ela postula. Para Marilene, a solução não cabe em um comprimido branco de pouco mais de 1 cm de diâmetro: “Nenhum medicamento no mundo daria conta da complexidade que é o processo de atenção e aprendizado de uma criança. Ele envolve afetividade, desejo, representações que a criança cria”.

Para os pais aflitos, que não sabem o que fazer com seu filhos travessos, ela acena um caminho, antes que eles decidam passar a bola para um psiquiatra: “A primeira coisa é ouvir a sua criança. O que ela tem a dizer sobre a escola? Os amigos a tratam bem? O professor escuta ela? Mudar para uma escola que entenda melhor a criança também deve ser levado em consideração”.

O problema não estaria na cabeça das pessoas, mas na sociedade. É o que acredita Maria Aparecida Moyses, pediatra e professora da Unicamp: “Se tem tanta gente deprimida ou desatenta, temos que entender que elas estão sendo produzidas pelo modo que a gente vive. Nunca se tomou tanto remédio e nunca houve tantas pessoas doentes. Isso não pode estar certo. O que eles fazem é uma biologia de um corpo morto, de um cérebro sem vida, sem afeto, isolado do meio em que vive”.

Atendendo em um centro de saúde público em Campinas, ela diz já ter presenciado casos de jovens viciados no metilfenidato, que clamavam pela sua dose diária durante as férias, quando normalmente a posologia é suspendida. Pergunto então se ela daria Ritalina para um filho seu. “Sou contra”, ela retruca. “Ficar parado é, na verdade, uma reação adversa dos estimulantes. Focar atenção é sinal de toxicidade, não é efeito terapêutico.” Mas então o que você daria para ele? “Ritalina nem pensar. Daria... Rita Lee.”

Link da reportagem na íntegra - disponível em:
http://revistatrip.uol.com.br/revista/203/reportagens/geracao-ritalina.html

Por Edilaine R.
22 março 2013