Adesivos podem substituir agulhas em vacina do futuro, dizem cientistas
Jane Wakefield
Repórter de Tecnologia, BBC News
"Um adesivo que é colocado na pele para aplicar vacinas de forma
barata e eficaz foi apresentado durante a conferência TEDGlobal em Edimburgo, na
Escócia."
Substituir a agulha por um nanoadesivo pode transformar a prevenção de
doenças mundo afora, disse o inventor da tecnologia, o pesquisador Mark Kendall,
da University of Queensland, em Brisbane, Austrália.
Segundo ele, o novo método abre caminho para vacinas de uso fácil para
doenças como a malária, por exemplo.
Outros especialistas deram boas vindas à novidade, mas disseram que o método
pode não ser apropriado para todos os pacientes.
A série de conferências TEDGlobal (a sigla inglesa TED quer dizer "Think,
Exchange, Debate" ou "Pense, Troque, Debata") é realizada anualmente em
diferentes partes do mundo. Ela é financiada pela fundação privada sem fins
lucrativos Sapling Foundation, que promove a circulação de grandes ideias pelo
mundo.
Método Antigo
A palestra de Kendall em Edimburgo teve uma simbologia histórica: há 160
anos, na capital escocesa, Alexander Wood pediu a primeira patente para a agulha
e a seringa.
"A patente era quase idêntica às agulhas que usamos hoje. É uma tecnologia de
160 anos", disse Kendall.
Aliada à água limpa e saneamento, ela cumpriu um papel fundamental no aumento
da longevidade em todo o mundo, acrescentou. Mas para Kendall, talvez tenha
chegado a hora de atualizarmos essa tecnologia.
O nanoadesivo é baseado na nanotecnologia - que permite manipular a matéria
em escala atômica e molecular, ou seja, em dimensões infinitamente pequenas.
Ele supera algumas das desvantagens mais óbvias de vacinas convencionais,
como o medo da agulha e a possibilidade de contaminação provocada pelo uso de
agulhas sujas.
Mas há outras razões pelas quais o método pode ser transformador, disse o
professor.
Milhares de minúsculas saliências no adesivo perfuram a pele e liberam a
vacina, que é aplicada, seca, sobre a pele.
"As saliências no adesivo trabalham com o sistema imunológico da pele. Nosso
alvo são essas células, situadas a um fio de cabelo de distância da superfície
da pele", disse Kendall.
"Talvez estejamos errando na mira e deixando de atingir o ponto imunológico
exato, que pode estar na pele e não no músculo, que é onde as agulhas
tradicionais vão".
Em testes feitos no laboratório de Kendall na University of Queensland, o
adesivo foi usado para administrar a vacina contra gripe.
A equipe australiana disse ter notado que as respostas para vacinas aplicadas
por meio do nanoadesivo foram completamente diferentes daquelas aplicadas com o
uso da seringa tradicional.
"Isso significa que nós podemos trazer uma ferramenta completamente diferente
para a vacinação", disse o pesquisador.
A quantidade de vacina necessária, por exemplo, é muito menor - até um
centésimo da dose normal.
O preço de "uma vacina que custa US$ 10 pode ser reduzido para US$ 0,10, o
que é muito importante no mundo em desenvolvimento", acrescentou.
Vacinas Sem Efeito
Outro ponto fraco das vacinas tradicionais é que, por serem líquidas,
precisam ser mantidas no refrigerador, desde o laboratório até a clínica onde é
feita a vacinação.
"Metade das vacinas aplicadas na África não estão funcionando direito por
causa de falhas na refrigeração em algum momento".
Quando Kendall disse, durante a conferência, que a vacina nanoadesiva poderia
ser mantida a 23ºC durante um ano, a plateia respondeu com aplausos
calorosos.
Um representante da Brithish Society for Immunology, a sociedade britânica de
imunologia, deu boas vindas à tecnologia, mas fez algumas ressalvas.
"Essa abordagem traz esperanças de vacinação fácil e em grande escala, já que
ela tem como alvo um tipo de célula imunológica chamada célula Langerhans, que
existe em abundância na pele", disse Diane Williamson".
"Essas células absorvem avidamente a vacina e são capazes de desencadear a
resposta imunológica".
"Porém, um dos problemas em potencial na aplicação (da vacina) sobre a pele é
o tempo de aplicação e como garantir a administração da quantidade adequada de
vacina".
"Além disso, talvez haja problemas de tolerância do adesivo em alguns
pacientes. Mas se esses problemas puderem ser superados, o nanoadesivo tem o
potencial de substituir a aplicação convencional, baseada em aplicação
intramuscular por agulha".
O nanoadesivo começará a ser testado em breve na Papua Nova Guiné, onde
suprimentos de vacina são escassos.
Kendall disse que acha difícil imaginar um mundo sem agulhas e seringas
tradicionais, mas espera que o novo método possa ser utilizado em grande
escala.
Para acessar o link:
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2013/06/130613_vacina_adesiva_mv.shtml
Por Edilaine R.,
09 julho 2013
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